O projecto Pipocas, Óscars, Acção anda um bocadinho atrasado
mas com calma as coisas vão ao seu sítio. Para o mês de Março e Abril o ano que
calhou em sorteio foi o ano de 1962. Nesse ano estavam a concurso cinco filmes:
“Fanny”, “Os canhões de Navarone”, “A Vida é um Jogo”, “O Julgamento de
Nuremberga” e “West Side Story” o grande vencedor da noite. Desta lista acabamos
por escolher o filme “O Julgamento de Nuremberga” um filme que há já algum tempo
me despertava a curiosidade por retratar um acontecimento da Segunda Guerra
Mundial. Quando sorteamos os filmes acabo sempre por procurar escolher um filme
que me desperte alguma curiosidade porque acabando eles por ser filmes mais
antigos eu acabo por ficar sempre com o pé atrás a achar que não vou gostar. No
entanto mês após mês tenho conseguido superar as minhas expectativas e gostar
muito dos filmes sorteados e este mês não foi excepção. Um filme duro mas muito
bom.
Tinham se passado três anos desde que os mais importantes líderes nazis tinham sido julgados em Nuremberg. Dan Haywwod (Spencer Tracy), um juiz americano, tem uma árdua tarefa, pois preside o julgamento de quatro juízes que usaram os seus cargos para permitir e legalizar as atrocidades nazis contra o povo judeu durante a 2ª Guerra Mundial. À medida em que surgem no tribunal as provas de esterilização e assassinato a pressão política é enorme, pois a Guerra Fria está a chegar e ninguém quer mais julgamentos como os da Alemanha. Além disto os governos aliados querem esquecer o passado, mas a coisa certa que se deve fazer é a questão que este tribunal tentará responder.
Histórias sobre a Segunda Guerra Mundial são sempre
histórias que me despertam dois tipos de sentimentos, o da curiosidade por tudo
aquilo que aconteceu, e o da revolta por aquilo ter acontecido. Por isso quando
este filme surgiu nas nossas escolhas eu não hesitei em escolher este filme
para ver. Apesar das suas quase três horas de filme ele vale muito a pena por todo o seu conjunto.
Já se passaram três anos desde que a Segunda Guerra Mundial
acabou e é tempo de se começar a recompor as coisas, entre elas julgar os “culpados”
por tudo aquilo que aconteceu. Neste filme em específico nós assistimos ao
julgamento de quatro pessoas pertencentes ao ministério da justiça que
ordenaram a morte de milhares de pessoas. Estes foram aqueles que acabaram por
ser condenados com a pena mais pesada, a prisão perpétua. Mas os julgamentos de
Nuremberga não existiram só contra as quatro pessoas que vemos no filme, muitos
outros acabaram por ser sentenciados até com a pena de morte. Estes do filme
acabam por ser o rosto de todos aqueles que se sentaram no banco dos réus. Para
este julgamento em específico é nomeado um juiz americano proveniente de uma
terra do interior americano para presidir a um colectivo de juízes e decidirem
o futuro daqueles homens. Assim, ao longo de dias vamos assistindo ao processo
de julgamento, e é durante este processo que vamos vendo a complexidade que toda
esta guerra foi. Pensar só no lado das vítimas que morreram e se sacrificaram
nos campos de concentração é só olhar para um lado da moeda, talvez o mais
visível e o mais terrível. Esquecer e seguir em frente não é opção e aquilo que
se passou nos campos de concentração jamais deverá ser esquecido. Mas também
existiu todo um outro lado da moeda. O lado alemão, o lado de quem nada sabia,
o lado que achava que apenas estava a fazer o melhor para o seu país, o lado
que podia ter feito algo, ter batalhado para que algo mudasse, ou para que tudo
aquilo acabasse. E depois claro todo o lado que achava que estava a fazer o
bem, sabia que estava a fazer o mal e mesmo assim nada fazia. E este filme é
muito bom nesse aspecto, mostrando-nos todos estes lados. Temos o lado das
vítimas, demonstradas neste filme através dos testemunhos, dos vídeos dos
campos de concentração e até de alguns militares. Temos o lado dos alemães que
nada sabiam como os empregados da casa onde o juiz deste filme fica hospedado
ou até da viúva do militar. E o lado dos réus que sabiam aquilo que estavam a
fazer, queriam parecer que nada faziam, mas que acabaram por matar milhares de
pessoas sem nunca terem sujado as mãos. Este é um filme parado, focado quase
que inteiramente no julgamento, querendo ao máximo tirar partido de tudo aquilo
que ali é dito. Temos então a acusação que procura a todo o custo demonstrar a
culpabilidade dos réus. A defesa que
procura demonstrar a “inocência” dos réus através da desculpa que eles só
faziam o que faziam em nome do seu país. E por fim claro um juiz que no fundo
não sabe muito bem o que fazer. Presidir um julgamento como este não é fácil e
qualquer decisão que por ele for proferida não será bem entendida pelos
alemães. Para mais num mundo onde até quem acabou com a guerra acabava por ser
um “aliado” de quem a começou. No entanto vemos um juiz que se preocupa em
procurar saber todos os lados da história que não fica por aquilo que ouve.
E por isso ao longo do filme vamos também através do juiz ficar a perceber um
pouquinho mais do que aquilo que se passava naquela sala de audiência. Vamos ficar
a conhecer um pouco mais de como a Alemanha se estava a recompor, como era a sua vida social, mais da história dos alemães que nada sabiam e isso
para mim foi também um lado importante do filme, para nos mostrar mais do que
se passava à época.
E por fim falar-vos das partes técnicas do filme. Este é um
filme a preto e branco, um dos poucos que vi ainda e posso dizer-vos que para
mim atribuiu outra magia a este filme. Quase que a dar o toque a todo o tema
envolvente. O filme em si não é dado a muitos cenários, visto que as três horas
de filme são quase todas passadas numa sala de audiência, mas as filmagens e a
edição do filme fizeram para mim toda a diferença, não tornando o filme
monótono e agradável a quem o vê. E por fim o que para mim deu o toque extra ao
filme foi sem sombra de dúvidas os actores escolhidos. Todas as interpretações
estiveram fantásticas, entregando ao filme toda a carga dramática que o mesmo
merecia.
É sem sombra de dúvidas um filme que recomendo. Não só pela
história, mas também por ela, por nos contar um bocadinho daquilo que
normalmente não vemos quando pensamos na Segunda Guerra Mundial. Mas também por
todo o filme que é. Acho que vale muito a pena ser visto.

Eu já vi "O Julgamento de Nuremberga" duas vezes, mas a versão mais recente. Espreita: http://www.imdb.com/title/tt0208629/?ref_=nv_sr_2
ResponderEliminarHum.. tenho que ir ver.. :D
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