Sempre soube isto, mas acho que a visualização deste
documentário só veio reforçar a minha ideia: nunca conhecemos verdadeiramente
as pessoas que nos rodeiam. Os seus gostos, as suas ambições, os seus hobbies
mais secretos, porque quando queremos conseguimos esconder realmente algo de
alguém. Vivian Maier é a personificação disso
mesmo, viveu uma vida inteira de aventuras e de segredos que nunca ninguém teve
realmente conhecimento.
O documentário apresenta a história de vida de
Vivian Maier, uma fotógrafa que passou grande parte da sua vida adulta
a trabalhar como babysitter num bairro rico de Chicago. Durante a segunda
metade do século vinte, Maier registou imagens das peculiaridades da vida
urbana nos Estados Unidos.
Em 2007 John Maloof
precisava de fotografias antigas para um trabalho. Recorreu então a um leilão
de antiguidades e compra algumas caixas com negativos e é aí que descobre um
pequeno tesouro. Dentro daquelas caixas existiam centenas de fotografias muito
aleatórias tiradas por um ser misterioso. É então que ele começa a ficar
curioso com a pessoa por detrás das fotografias e começa a investigar a origem
delas, nessa aventura vai descobrir que as caixas que ele tinha comprado não
eram as únicas que existiam, mas pertenciam a uma vasta colecção que reunia
fotografias e muitas outras coisas que Vivian Maier tinha, literalmente,
acumulado ao longo da sua vida. Começa então uma verdadeira investigação a esta
pessoa, porque na realidade as caixas falavam de tudo menos da pessoa a quem
elas pertenciam. Dessa investigação nasceu este documentário que retrata a
busca pela identidade de Vivian Maier. Porque afinal quem foi ela?
O meu gosto pela
fotografia fez-me ficar muito curiosa com alguns documentários nomeados aos
Oscars deste ano. Este em particular despertou-me muita curiosidade porque não
fala só da fotografia, mas aborda o ser humano que estava por detrás daquela lente.
Uma pessoa que percebemos ao longo da longa metragem ser uma pessoa muito
reservada, que preferiu trabalhar toda a sua vida como babysitter, a revelar ao mundo o seu talento como
fotógrafa. Ao longo de anos ela foi acumulando milhares de rolos fotográficos
cheios de pérolas, hoje consideradas uma obra prima da fotografia. Por detrás
desta personalidade vamos percebendo ao longo do filme aquela que era a
verdadeira Vivian Maier. Uma pessoa reservada que
gostava de acumular tudo e mais alguma coisa, com uma personalidade fechada, por
vezes até dura e com convicções muito marcadas. Uma personalidade que não
passou despercebida a todas as pessoas que conviveram com ela, mas que
realmente nunca as chegou a tocar porque no fundo nunca ninguém percebeu
realmente quem era esta mulher.
Vivian Maier era
mais do que uma simples mulher, ou muito mais do que aquilo que ela realmente
era. Acredito sempre que os maiores génios são seres incompreendidos pelo mundo
e até por eles próprios e por isso muitos nunca se apercebem da genialidade que
têm. Esta mulher tinha uma visão do mundo muito particular e decidiu captá-la
através de uma lente de fotografia. Nuca saberemos se ela iria gostar ou não de
partilhar com o mundo esta sua faceta e até a história da sua vida, mas
acredito que o mundo ficou mais rico com a partilha da história desta mulher.
Foi definitivamente um
documentário que adorei assistir, mas ao mesmo tempo um que me colocou
definitivamente a pensar, na vida e naquilo que fazemos com ela. No legado que
deixamos e na forma como deixamos que a nossa cabeça e o mundo em que vivemos
nos deixa influenciar. E é um documentário que recomendo muito não só para os
amantes de fotografia, mas também para todos aqueles curiosos com a história de
uma mulher que viveu uma vida cheia de coisas, mas ao mesmo tempo vazia de
tantas outras.
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